No seguimento do convite feito pelo presidente Cavaco Silva o papa Bento XVI visita Portugal. Quem é e o que defende Bento XVI?
Leia a opinião: Sei o que fizeste no Verão passado de Alice Brito.
Com a ascensão de Joseph Alois Ratzinger como 266º papa, subiu também ao poder a ala mais conservadora do Vaticano, a Congregação para a Doutrina da Fé, fundada pelo Papa Paulo III em 1542, com o objectivo de “defender a Igreja da heresia” e historicamente relacionada com a Inquisição. Mais do que o endurecer no discurso contra o uso de preservativos e a perseguição aos homossexuais, a eleição de Ratzinger significou um endurecer na perseguição interna às alas mais progressistas da própria igreja.
A actuação de Bento XVI desde a sua eleição como papa em Abril de 2005, tem vindo a concretizar os receios daqueles que já conheciam o percurso do novo pontífice. Alguns episódios, como a declaração feita no dia em que iniciou a sua primeira visita ao continente africano, onde afirmou que a distribuição de preservativos não é a “resposta adequada” ao problema da SIDA, e a sua afirmação de que a homossexualidade e a transexualidade são uma "destruição da obra de Deus", deram o tom do que tem vindo a ser o pontificado de Bento XVI.
Sem entrar no debate sobre as circunstâncias da participação de Ratzinger no exército de Hitler durante a 2ª Guerra, chama a atenção na biografia de Bento XVI a sua “mudança” ideológica dentro da própria igreja, que passa por uma posição crítica ao cerceamento da liberdade de pensamento e de expressão dentro da Igreja1, para tornar-se um dos mais ferozes perseguidores das suas vertentes mais progressistas, como é o caso da Teologia da Libertação.
Antes da deslocação à Portugal as notícias davam conta de diversos casos de abusos envolvendo padres. Em casos como os ocorridos em Wisconsin, nos EUA, o próprio Ratzinger é acusado de proteger os abusadores. Em diversas correspondências entre os bispos de Wisconsin e então cardeal Joseph Ratzinger, é patente que a preocupação central do clero não foi pensar na demissão do padre, mas sim proteger a Igreja do escândalo. Segundo o The New York Times, o padre Lawrence C. Murphy teria abusado de mais de 200 rapazes.
Após a divulgação de um relatório que provava a existência de abusos sexuais de centenas de crianças de forma generalizada pelo clero da região de Dublin entre 1975 a 2004, bem como o encobrimento por parte de quatro arcebispos de Dublin e a conivência das autoridades policiais, que encaminhavam as queixas das crianças para a diocese em vez de as investigarem, Bento XVI convocou todos os bispos para um encontro em Roma. No seguimento do encontro, ocorrido em Fevereiro, o papa foi duramente criticado pelas vítimas, que na voz de Maeve Lewis, directora executiva do grupo "One in four", declarou "a minha primeira reacção é de profundo desapontamento". "Não há nada na carta a sugerir que existe uma nova visão na liderança da Igreja Católica".
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1 Expresso num documento publicado em 1968, a “Declaração sobre a liberdade e a função dos teólogos na Igreja”. Neste documento, que contou com cerca de 1360 assinaturas e com Ratzinger como um dos 38 promotores, afirma-se: “Os teólogos abaixo-assinados vêem-se constrangidos e na obrigação de chamar abertamente e pela mais grave forma a atenção para o facto de a liberdade dos teólogos e da teologia ao serviço da Igreja, reconquistada pelo Segundo Concílio do Vaticano, não dever ser hoje posta em perigo”.
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